Ed Paes
A Poesia do Hino Nacional
Atualizado: 21 de jun. de 2022

Meu tio é um herói de guerra que participou da tomada do Monte Castelo, uma das mais importantes batalhas do Brasil na segunda guerra mundial. Era um homem reservado, não gostava de falar daquela época, apenas que lutou uma guerra justa, contra o Nazismo em defesa da liberdade do mundo ocidental. Amava sua pátria e dizia que cumpriu seu dever citando o verso; “Verás que um filho teu não foge à luta”. Por causa desse verso, um dia aproveitei para perguntar se ele gostava do hino nacional. Com aquele jeito de oficial do exército, ele me olhou e devolveu a pergunta; “Você gosta meu filho? . Com receio de responder claramente, dei muitas voltas para dizer “Tio, eu gosto mais da música, ela é bonita, emocionante, mas a letra...”. Ele abaixou os óculos, limpou a lente no lenço, colocou de novo no rosto; “O que tem a letra do nosso hino”, respondi de pronto; “Eu não entendo a letra...”. Ele sorriu, com minha sinceridade de menino, pediu que eu me sentasse ao lado dele para ouvir uma história. Curioso com o que ele iria dizer fui direto “Da guerra tio?”. Ele sorriu: “Sim, é da guerra... a bem da verdade do tempo da guerra. Uma história que envolve a letra do hino nacional, que você diz não entender”.
Não perdi tempo, sentei-me ao lado dele para não perder nenhum detalhe; “Estávamos na Itália, reunidos reunidos às vésperas do ataque ao Monte Castelo, que era uma uma fortificação onde as forças do Exército Alemão, tentavam conter o avanço dos Aliados no Norte da Itália. Esse ataque que custaria muitas vidas, por isso era importante motivar meu grupo. Estávamos reunidos pouco antes da noite cair conversando a respeito da estratégia. Como subir aquela maldita colina e voltar vivo. Um dos soldados para disfarçar a ansiedade começou a assoviar o hino nacional. Um sargento disse a ele. “Por que não canta soldado, sempre ouço você assoviar, mas cantar o hino nunca ouvi”, um outro soldado, um carioca, veio logo com gozação; “Ele não sabe a letra ué...”. O soldado parou de assoviar e falou o mesmo que você meu sobrinho. ‘Tenente, eu adoro, essa melodia do hino, toco de olhos fechados, mas confesso que não entendo a letra, tem muita coisa que a gente não fala daquela maneira ...”. Outros acenaram positivamente com a cabeça, o soldado Carioca foi sincero; “Pra falar a verdade, Tenente, também não entendo, canto, sei de cór o hino, mas entender ...”. Um outro soldado completou “Brado retumbante, raios fúlgidos, penhor dessa igualdade... olha... não sei o que é não” o Carioca completou; “Impávido colosso, Florão da américa e pra piorar tem o tal lábaro que ostentas estrelado...”
Meu Tio de falar por um instante, com seu olhar mirando o horizonte, era como se ele estivesse a frente dos companheiros de batalha, eu fiquei em silêncio não queria interromper; “Ouvindo aqueles homens percebi que não tinham o entendimento da mensagem do hino nacional. Muitos outros disseram a mesma coisa. Então resolvi dizer umas palavras para explicar a poesia do hino nacional; por favor, ouçam com atenção, o poeta que escreveu a letra do nosso hino, o Joaquim Osório Duque Estrada, descreve nos primeiros versos “Ouviram do Ipiranga...” que todos que estavam nas margens calmas do rio Ipiranga, ouviram um grito heroico. O grito de Don Pedro I; ‘Independência ou morte!’, libertando o Brasil de Portugal, sob o sol da liberdade que brilhava naquele instante. O custo dessa igualdade, nós os brasileiros conquistamos com braço forte. Ele canta que a liberdade nos desafia a mantê-la, é uma convocação para que lutemos pela Liberdade para sempre, mesmo que custe a nossa própria morte. O Brasil é a Pátria amada, que idolatramos acima de tudo. Por ela gritamos desde o mais fundo de nosso peito; Salve! Salve! Pária amada!”.
Imagino como estavam os soldados naquele momento, em meio aos preparativos para uma batalha, ouvindo o meu tio recitar de forma poética a letra de nosso hino. Aos poucos ele iam compreendendo o que era cantado; “O Brasil, é um sonho presente e intenso, é como a luz de um raio que ilumina e contagia a todos com amor e esperança. Um raio vívido que desce sobre a nossa terra. Em nosso lindo céu, aparece de forma limpa e clara a constelação do Cruzeiro do Sul que nos guia. A natureza fez do Brasil, um país gigante, belo, forte, valente, corajoso, a pátria a quem o futuro reserva nada menos que grandeza. Somos sim, gigantes pela própria natureza. O Brasil é a terra que adoramos. Eu sei que podem existir outras mil, mas é o Brasil, nosso pátria amada, dos filhos que nascem nesse solo, terra gentil e acolhedora. O poeta, não poderia ter defino de forma tão perfeita, que o Brasil está deitado eternamente no berço esplêndido da natureza, banhado pelo mar ao som de suas ondas e sob a luz do céu profundo! O Brasil resplandece. É a joia que brilha na América do sul, iluminado pelo Sol do Novo Mundo! . Eu estava extasiado, nunca imaginei a profundidade dos versos do nosso hino, que meu tio sabia interpretar como poucos; “É verdade que acima de qualquer outra terra, do que a terra mais viva e mais bela. Os nossos campos têm mais flores, nossos bosques têm mais vida e nossa vida é puro amor, Brasil, terra que amamos e idolatramos. Salve! Salve! Que nossa pátria seja símbolo de amor eterno, a bandeira estrelada, nas cores verde e amarela seja a marca da Paz, agora e no futur. Que guarde a glória do nosso passado".
Nesse momento, meu Tio se levantou, colocou a mão no peito, como se estivesse a frente de seus soldados para recitar os emocionantes versos finais; “Se houver um chamado em nome da justiça, o mundo verá que nós brasileiros não fugimos à luta, não tememos aqueles desejam a nossa própria morte. Nós lutaremos por essa terra adorada, porque entre outras mil, o Brasil é Pátria amada dos filhos dessa terra gentil. E sempre cantaremos com o coração ardente por nosso Brasil!”.
Ao terminar ficou em silêncio, pude ver nos seus olhos marejados a emoção. Eu estava arrepiado, nunca tinha ouvido ninguém explicar de forma tão linda e profunda a letra de nosso hino. Finalmente descobri o sentido da poesia do hino. Antes que dissesse qualquer coisa, meu tio continuou a falar. “Vou dizer uma outra coisa a respeito de nosso hino que você, com certeza, não sabe. O hino Nacional tem uma parte da letra que nunca é cantada, no início, onde na introdução da melodia.” Eu nunca tinha ouvido falar nisso, mas meu Tio esclareceu; “Eu usei a introdução para motivá-los ainda mais. A letra parecia ter sido escrita para aquele momento; “O Brasil espera que todos cumpram com seu dever. Avante, brasileiros, sempre avante! deixa gravada na história o poder da nossa Pátria. Que a gente cumpra o nosso dever, na guerra e na paz, sempre em favor da lei, que possa sempre erguer no vento a bandeira Brasil. Sempre em frente, sempre em frente...”
Depois voltou a sentar e me disse “Não sei se o que eu disse foi decisivo, mas com certeza foi importante. Todos que ali estavam, no dia seguinte marcharam para Monte Castelo, lutamos sem recuar, conquistamos a vitória. Na comemoração cantamos juntos o hino completo e todo o acampamento se emocionou com nosso canto”.
Abracei meu tio, com orgulho daquele verdadeiro herói, que lutou por nossa liberdade. A frase de Winston Churchill me veio à minha cabeça e eu adaptei; nunca tantos brasileiros deveram tanto a tão poucos como os heróis de Monte Castelo”. Desde aquele dia, toda vez que ouço o hino, lembro das palavras dele. Me emociono em saber que o penhor dessa igualdade que vivemos hoje foi à custa de muito amor, suor e lágrima.
Ed Paes é escritor, poeta e compositor. Autor de "Maria - A mãe de Jesus Cristo", "Bob Bylan é Outros", "Bob Dylan e a MPB" e Afonso - Um sonho de Glória" a venda no Clube de Autores e Amazon.